Assim é aparência do anti-imperialismo: convocatoria para cartazes

Pablo Picasso, War and Peace, 1952

Pablo Picasso, Guerra (acima) e Paz (abaixo), 1952>

 

Arte e anti-imperialismo

Na pequena comuna francesa de Vallauris fica uma capela do século 14. Em suas paredes, o artista espanhol socialista Pablo Picasso criou um de seus maiores murais: o díptico Guerra e Paz. Depois de 278 esboços, o mural finalizado de Picasso retrata um demônio da guerra, portador de doenças, lutando contra uma figura heroica que empunha uma lança e está protegida por uma pomba. É um retrato do imperialismo. No pano de fundo dessa pintura estavam as agressões militares dos EUA na Guerra da Coréia, que haviam começado dois anos antes e matariam três milhões de vidas em 1953.

“Pinturas não são feitas para decorar casas”, escreveu Picasso uma década antes. “É um instrumento de guerra ofensivo e defensivo contra o inimigo”, disse. Guerra se insere na tradição de Picasso de retratar os horrores da guerra, como a obra mais famosa Guernica (1937), sobre o bombardeio fascista da cidade basca. Guerra, entretanto, é o complemento de uma segunda pintura, Paz. É o retrato da resistência anti-imperialista, uma defesa do socialismo e um vislumbre de um mundo possível para os sobreviventes. Picasso não estava apenas condenando a guerra, mas proclamando uma visão de paz para os seres humanos e o planeta.

 

Semana Internacional da Luta Anti-Imperialista

Como parte da Semana Internacional da Luta Anti-Imperialista, o Instituto Tricontinental de Pesquisa Social está lançando a primeira Exposição de Cartazes Anti-Imperialistas.

Esta série de quatro exposições online nos próximos meses servirá como instrumentos culturais para animar e aprofundar o processo político da Semana Internacional de Luta Anti-Imperialista, uma plataforma política que emergiu de movimentos populares, organizações políticas e redes de todo o mundo.

O Instituto Tricontinental de Pesquisa Social se uniu a esse processo por entender que a batalha intelectual e cultural de ideias deve estar firmemente fundamentada em movimentos mobilizados em seus trabalhos de base. Uma declaração conjunta das mais de 100 organizações membros pode ser encontrada aqui; é uma declaração em defesa da vida, da paz e do planeta nesta luta.

Estamos em uma encruzilhada. O imperialismo está colocando em risco o futuro da vida no planeta. Os direitos básicos de moradia, saúde e educação estão cada vez mais fora de alcance. Os países do Sul Global estão sendo rapidamente despojados de sua soberania, com guerras e agressões militares à espreita, ameaçando a sobrevivência do planeta e do povo.

E tudo isso antes da pandemia de Covid-19 começar a abalar o mundo, revelando as contradições do capitalismo que, sob a ordem imperialista e neoliberal, provaram não ter respostas às necessidades do povo.

 

A arte a serviço do povo

No início dos anos 1980, Thami Mnyele, um dos grandes artistas-militantes da África do Sul e co-fundador do grupo de trabalhadores culturais exilados Medu Arts Ensemble, escreveu que “a luta do artista deve estar enraizada naquela da maioria do nosso povo”. Ele nos lembra que a arte política deve fundamentar-se nos movimentos e lutas populares. “Qualquer engajamento real pela mudança deve, necessariamente, buscar inspiração e aliança com o movimento popular”. Para Mnyele, isso seria “rio” que alimenta e nutre uma obra de arte.

Sabemos que nossa força coletiva está na mobilização; e estas precisam encontrar suas vozes visuais. Esse processo precisa desenvolver sua expressão visual coletiva. Portanto, como parte do processo político da semana anti-imperialista ao longo de  2020, pedimos ajuda aos artistas gráficos e militantes de todo o mundo para transformar nossa indignação coletiva em imagens inspiradoras para expor a violência do imperialismo por meio de cartazes e, o mais importante, nos ajudar a imaginar um futuro diferente. “Com nossos pincéis e tintas”, insistiu Mnyele, “precisaremos visualizar a beleza do país em que gostaríamos que nosso povo vivesse”.

 

 

Convocatória

 

A Exposição de Cartazes Anti-Imperialistas é uma série de exposições online mensais que serão baseadas em quatro conceitos fundamentais: Capitalismo, Neoliberalismo, Guerra Híbrida e Imperialismo. (Detalhes completos da aqui).

Nossa primeira chamada para artistas está centrada no tema Capitalismo, a ser seguida por uma convocatória de arte para os outros três conceitos-chave. O texto abaixo serve como um guia sobre como entendemos o capitalismo, e convidamos você a interpretá-lo visualmente.

Capitalismo: A maioria dos meios de produção pertencem às grandes corporações, que contratam as pessoas para trabalharem para elas. Os trabalhadores são forçados a venderem sua força de trabalho e são explorados na produção das mercadorias; ao serem vendidas obtém-se lucro, aumentando a riqueza de poucos. 

  • Informações: título do trabalho, nome completo, país, organização (opcional), perfis em redes sociais (opcional).
  • Cor: Qualquer – ênfase no verde recomendada para a unidade visual entre os pôsteres.
  • Identidade Visual: Incorporar o logotipo da Semana Internacional da Luta Anti-Imperialista e Instituto Tricontinental de Pesquisa Social em obras de arte (link)
  • Idioma: inglês, espanhol, português, árabe, francês (utilize pouco texto para facilitar a acessibilidade)
  • Formato de envio: A3 em .jpg ou .pdf (300 dpi) – sem bordas, planos de fundo ou marcas d’água.
  • Prazo: segunda-feira, 25 de maio de 2020
  • E-mail: [email protected]

 

Com curadoria conjunta do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social e da Semana Internacional de Luta Anti-Imperialista, a exposição será hospedada no site da Semana e distribuída como um catálogo digital, com todos os créditos concedidos aos artistas participantes. Os cartazes serão disponibilizados para as centenas de movimentos que participam desse processo anti-imperialista. Pedimos aos artistas que incorporem criativamente os logotipos da Semana e da Tricontinental, para que também sejam nossas ferramentas visuais na construção do próprio processo.

Afinal, a arte, como a terra, pertence aos que nela trabalham – pertence à classe trabalhadora e aos povos oprimidos do mundo. Convidamos você, como artistas, a cultivar uma prática e espírito de internacionalismo, criando arte solidária a serviço dos movimentos e lutas populares.