São Paulo, 05 de setembro de 2020
Nº 014/20 – semana 1

 

Síntese:  A atividade industrial na China apresentou mais um mês de crescimento com o aumento da demanda interna e externa. Nos EUA os resultados também são de crescimento no terceiro mês consecutivo das encomendas feitas à indústria. A taxa de desemprego nesse país caiu para 8,4%, com a abertura de mais de 1,4 milhão de empregos. Já na Índia, os resultados do PIB do segundo trimestre foram de -23,9%. Na disputa geopolítica, a China atualizou a lista de tecnologias restritas à exportação, o que pode complicar as negociações do aplicativo TikTok. O PIB brasileiro do segundo trimestre teve uma queda de -9,7%; o consumo das famílias e do governo caíram -12,5% e -8,8%, respectivamente. Contudo, a confiança empresarial vem aumentando desde maio. Um dado que reforça as expectativas positivas foi do crescimento da produção industrial brasileira no mês de julho em 8,0%, o terceiro mês com taxas crescentes. A Dívida Líquida do Setor Público estava em 60,2% do PIB no mês de julho, um crescimento de 2,2% em relação a junho. O déficit primário do governo estava em R$ 483,8 bilhões até julho; no mesmo período do ano passado esse déficit era de R$ 8,5 bilhões. O governo apresentou a proposta Orçamentária para o ano de 2021 que prevê um crescimento de 3,2% do PIB e um salário mínimo de R$ 1.067. No mercado de trabalho, a Petrobras vai adotar o teletrabalho permanente após a pandemia, com o objetivo de reduzir os custos. A Embraer demitiu 2,5 mil trabalhadores, e está sendo pressionada pelos funcionários para a reversão das demissões diante da iminência de uma greve. As montadoras de automóveis mantêm uma ociosidade de 68% no ano de 2020 em comparação aos 42% do ano de 2019, o que pode impactar na manutenção dos empregos no setor. Na contramão da crise global, as “big techs” continuam apresentando ganhos em sua receita e lucros, com um valor de mercado estimado de US$ 6,5 trilhões. A prorrogação do Auxílio Emergencial foi apresentada com duração até o fim do ano, mas com o corte pela metade de seu valor.

 

INTERNACIONAL

1. A China atualizou a lista de tecnologias restritas à exportação que podem dificultar ainda mais as negociações da venda do aplicativo TikTok, da empresa chinesa Bytedance. Foi a primeira vez que a China ajusta a lista de tecnologias sujeitas a proibições de exportação desde 2008. O que está em jogo é a transferência de tecnologia chinesa desenvolvida no aplicativo, como modelagem de fala e reconhecimento fácil e de voz. A Microsoft, junto com o Walmart, são um dos possíveis compradores nessa negociação que sofre pressão de ambos os lados.

2. A atividade industrial da China no mês de agosto apresentou crescimento tanto na pesquisa oficial do governo, que capta mais as grandes empresas e estatais, como na pesquisa privada Caixin e IHS Markit, que observa melhor a movimentação das pequenas e médias empresas. A demanda por pedidos de exportação também aumentou no mês, o primeiro aumento desde o início da pandemia da Covid-19.

3. As novas encomendas à indústria dos EUA apresentaram crescimento de 6,4% em julho comparado ao mês anterior, representando o terceiro mês consecutivo de aumento. Os embarques também tiveram um crescimento de 4,6% no mesmo mês. O emprego total em agosto aumentou em 1,4 milhão de pessoas; com isso, a taxa de desemprego está em 8,4%, segundo o Instituto de Estatísticas do Trabalho dos EUA.

4. O PIB do segundo trimestre da Índia teve uma queda de -23,9%. A indústria teve uma baixa de -39,3%, enquanto na construção civil e na mineração esses números foram de -50,3% e -23,3%, respectivamente. Apenas o setor agrícola apresentou crescimento de 3,4%.

5. O preço global dos alimentos subiu 2,0% em agosto em relação ao mês de julho. Trata-se do terceiro mês de alta consecutiva em decorrência do aumento da demanda e enfraquecimento do dólar americano, segundo pesquisa da FAO. É o nível mais alto atingido desde fevereiro de 2020.

 

CRESCIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO

6. O PIB brasileiro do segundo trimestre apresentou uma queda de -9,7% em relação ao primeiro trimestre de 2020; o menor resultado desde o início da série histórica, de acordo com o IBGE. A regressão, comparado ao mesmo trimestre de 2019, foi de -11,4%; no acumulado do ano a queda é de -5,9%. A indústria apresentou uma das maiores quedas, com variação de -12,3%; no setor de serviços esse resultado foi de -9,7%. Apenas a agropecuária cresceu 0,4%. O consumo das famílias, que representa mais de 60% do PIB, teve uma queda de -12,5%, enquanto os investimentos diminuíram -15,4% e o consumo do governo recuou -8,8%. Reportagem do Valor Econômico apresenta o quadro com 42 países que divulgaram seus resultados para o trimestre.

7. A queda do consumo só não foi mais intensa por conta do Auxílio Emergencial que se manteve forte nas regiões mais pobres do país. O nível de consumo da região Norte foi 37% superior ao momento pré-pandemia; no Nordeste o aumento foi de 16% no mesmo período, segundo o estudo do Banco Central.

8. Mesmo com resultados negativos no 2° trimestre, os dados da FGV demonstraram que a confiança empresarial (ICE) subiu 7,0 pontos no mês de agosto, uma tendência que se iniciou já em maio, com destaque para a Indústria e o Comércio. Já o indicador de Incerteza da Economia teve uma baixa de 3,4 pontos em agosto, a quarta queda contabilizada, embora ainda esteja 20 pontos acima do recorde anterior à pandemia da Covid-19.

9. A produção industrial do mês de julho apresentou um aumento de 8,0% em relação a junho de 2020. O mês de maio e junho já haviam apresentado um aumento de 7% e 8,9%, respectivamente, segundo os dados da PIM/IBGE. Em relação ao mês de julho de 2019, a desaceleração foi de -3,0%. No acumulado do ano a queda é de -9,6%. Por Grandes Categorias Econômicas, os Bens de Capital tiveram um crescimento de 15,0% no mês; em junho o crescimento foi de 13,1% (mas ainda com uma queda no acumulado de -20,3%). Os bens duráveis, com forte impacto da produção de carros, teve um crescimento de 42,0%. No mês passado o crescimento foi de 82,2%, e em maio foi de 92,5%. O ano ainda acumula queda de -18,5%.

10. Na batalha em torno da defesa do Teto dos Gastos, o Ministério da Economia publicou uma Nota Informativa dos motivos para sustentar essa política. A principal defesa ao Teto dos Gastos, visto como a principal âncora fiscal da economia, é de preservar a credibilidade com os “agentes econômicos” de que a dívida pública manteria sua trajetória sustentável. Do contrário, a previsão do ministério é maior queda do PIB, aumento dos juros e da inflação.

 

CRÉDITO, DÍVIDA E JUROS

11. Em julho, a Dívida Líquida do Setor Público estava em R$ 4,32 trilhões, 60,2% do PIB, um aumento de 2,2 p.p. do PIB em relação ao anterior. No ano, a elevação foi de 4,5 p.p., tendo como principal responsável o crescimento do déficit primário acumulado. A Dívida Bruta do Governo Geral no mês de julho era de R$ 6,21 trilhões, equivalente a 86,5% do PIB, como mostra as estatísticas fiscais do Banco Central do mês.

12. O Tesouro Nacional confirma a tendência de encurtamento do perfil da dívida pública com a revisão do Plano Anual de Financiamento (PAF) de 2020, como resposta ao aumento dos gastos para o enfrentamento à pandemia da Covid-19. Outro argumento é a maior aversão ao risco e preferência por liquidez por parte dos investidores. O prazo médio em anos para o vencimento da dívida reduziu de 3,9 e 4,1 para 3,5 e 3,8.

 

CONTAS PÚBLICAS

13. O setor público consolidado registrou déficit primário de R$ 81,1 bilhões em julho. No Governo Central houve déficit de R$ 88,1 bilhões, e nos governos regionais e empresas estatais, superávits de R$ 6,3 bilhões e R$ 790 milhões, respectivamente. No acumulado do ano, o déficit primário acumulado do setor público consolidado atingiu R$ 483,8 bilhões, ante os R$ 8,5 bilhões no mesmo período do ano anterior, segundo dados do Banco Central.

14. O governo apresentou ao Congresso Nacional a proposta de Orçamento para o ano de 2021, que prevê um resultado primário do setor público de R$ 237,3 bilhões. O documento projeta um crescimento do PIB para 2021 de 3,2%, diante de uma queda prevista para 2020 de -4,7%. A inflação medida pelo IPCA é projetada em 3,24%, e pelo INPC em 2,09%. A taxa de câmbio ficou em R$ 5,11 por dólar, e o valor do salário mínimo previsto é de R$ 1.067, sem ganhos reais garantidos. A proposta também mantém a regra fiscal do Teto dos Gastos, reduzindo -2% nos gastos com saúde e -25% no orçamento da pasta de ciência e tecnologia. Não apresentaram nenhuma proposta para o programa Renda Brasil.

15. A balança comercial brasileira teve um superávit de US$ 6,6 bilhões no mês de agosto, um aumento de 68,9% em relação ao mesmo mês do ano passado. Esse valor representou um recorde para o mês desde o início da série em 1989. As exportações tiveram uma queda de -5,5% em valores de dólares em relação a agosto do ano passado, apesar do crescimento de 3,4% do total de embarques em toneladas. Já as importações tiveram uma queda de -25,1% em relação a agosto de 2019. Houve uma contração de 14,2% em agosto da corrente de comércio – soma das exportações e importações – comparado ao mesmo mês do ano passado. Nos produtos exportados houve crescimento de embarques na agropecuária (14,6%), mas apresentou queda na indústria extrativa (-15,4%) e indústria de transformação (-7,7%).

 

MERCADO DE TRABALHO E RENDA

16. Após a pandemia, a Petrobras irá adotar o teletrabalho permanente para seus trabalhadores do setor administrativo, com adesão voluntária e limite de até três dias por semana. O público-alvo são 28,5 mil trabalhadores, dos quais 13 mil responderam à pesquisa. Com isso, a empresa busca reduzir seus custos com capacidade predial, prevendo uma possibilidade de atender apenas 50% do total de trabalhadores do administrativo.

17. A segunda semana de agosto apresentou um total de 12,9 milhões de pessoas desempregadas. A taxa de desemprego subiu de 13,3% na semana anterior para 13,6%, segundo a PNAD-Covid19 do IBGE. A população fora da força de trabalho foi estimada em 75,5 milhões. Desse total 27,1, milhões gostariam de trabalhar. Da população ocupada, apenas 5,2% estavam afastadas devido ao distanciamento social. Na primeira semana de maio 19,8% das pessoas estavam afastadas.

18. A Embraer demitiu 2,5 mil trabalhadores (12,5% de seu efetivo), além de outros 1,6 mil desligamentos decorrentes da adesão dos programas de demissão voluntária (PDV). O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região realizarão uma assembleia virtual para avaliar duas perguntas. A primeira sobre a proposta do Sindicato de reversão de todas as demissões, estabilidade do emprego por 24 meses e equalização dos altos salários pagos pela empresa. A segunda irá sondar se os trabalhadores são a favor de referendar a greve aprovado no dia 03/09. Uma Nota Técnica do DIEESE de agosto analisa a Embraer e a conjuntura vivida por ela hoje.

 

EMPRESAS (INDÚSTRIA, COMÉRCIO, SERVIÇOS E AGRONEGÓCIO)

19. Embora a atividade nas montadoras de automóveis tenha demonstrado recuperação no último período, a ociosidade ainda é alta, em torno de 68% em 2020. Ano passado esse número estava em 42%. Diante desse quadro, mesmo com a prorrogação da suspensão temporária de contrato de trabalho, mantêm-se as negociações para reduzir o número de trabalhadores nas plantas. As montadoras avaliam seu excedente de pessoal pela conta de veículos produzidos por trabalhador. Em 2019 foram produzidos 27,6 automóveis por trabalhador; neste ano a relação está em 15,67 por trabalhador.

20. As “big techs”, conhecidas como o grupo Faang (Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google), continuam apresentando resultados recordes em suas receitas em meio à pandemia, dobrando o seu lucro. Somadas, as cinco empresas tem um valor de mercado de cerca de US$ 6,5 trilhões. O crescimento tem relação com o aumento da movimentação digital diante da pandemia. O “streaming” de séries e filmes da Netflix teve um aumento de 116% no lucro. Já a Amazon apresentou um aumento das vendas online de 160% no período de isolamento social, além da busca por projetos de transformação digital das empresas que impulsionaram os serviços de computação em nuvem.

 

ESPECIAL COVID-19

21. O governo federal anunciou a prorrogação do Auxílio Emergencial até dezembro. O valor será reduzido pela metade, de R$ 600 para R$ 300, mas ainda superior ao valor do Bolsa Família. Movimentos populares, sindical e oposição têm o desafio de lutar pela manutenção do valor original, que garanta condições mínimas para o povo sobreviver. A reportagem na revista Piauí traz alguns dados sobre o número de pessoas atendidas e os compara mundialmente. Por exemplo, o Brasil tem uma Alemanha atendida por programas de transferência de renda, o que corresponde a 85 milhões de pessoas.

22. Até o momento, os recursos liberados para o Auxílio Emergencial foram de R$ 189,6 bilhões, sendo feitos 269,5 milhões de pagamentos e beneficiando 67,2 milhões de pessoas, segundo a Caixa.

23. No monitoramento de gastos da União com o Covid-19, o Tesouro Nacional mostrou que já foram gastos R$ 366,9 bilhões (na semana passada foram R$ 310,9 bilhões) de uma previsão de R$ 512,0 bilhões (na semana retrasada era de R$ 510,0 bilhões). Os maiores valores foram com o Auxílio Emergencial a Pessoas em Situação de Vulnerabilidade (R$ 212,75 bi), Auxílio Financeiro aos Estados, Municípios e DF (R$ 55,17 bi), Despesas Adicionais do Ministério da Saúde e Demais Ministérios (R$ 32,48 bilhões) e Cotas dos Fundos Garantidores de Operações e de Crédito (R$ 25,9 bilhões).