O fechamento das plantas fabris da Ford no Brasil podem fechar mais de 52 mil postos de trabalho direto e indireto em 2021

 

São Paulo, 16 de janeiro de 2021
Nº 001/21

Olá amigos e amigas,

Espero encontrá-las bem, com novo ânimo e disposição para enfrentar as lutas de mais um ano desafiante.

Giro Econômico  voltou do recesso, mas estamos reformulando a nossa forma de apresentação das notícias econômicas, com o objetivo de ser mais precisos e analíticos nos temas mais importantes. Enquanto organizamos esse novo formato nesse mês de janeiro, deixamos nesse Giro algumas notícias mais quentes da semana.

Gostaríamos muito da opinião de vocês sobre essa publicação semanal do Instituto Tricontinental. Nos envie suas sugestões e críticas para esse aprimoramento.

 

Boa Leitura!
André Cardoso

Coordenação

Instituto Tricontinental de Pesquisa Social
[email protected]

 

1. As previsões de crescimento global da economia – a visão do Banco Mundial

Como todo início de ano, as principais agências e organizações políticas e econômicas apresentam as projeções para o ano que entra. Nesse Giro, destacamos as previsões do Banco Mundial em seu relatório Global Economic Prospects, que enfatiza não só a recessão global causada pela pandemia no ano de 2020, com uma previsão de queda da economia global de 4,3%, mas também de uma análise da década pré-pandemia, que foi marcada por fraquezas e desapontamentos econômicos em todo o período.

Para o ano de 2021, no melhor dos mundos (com uma boa limitação do contágio por conta da vacina e a permanência das políticas fiscais e monetárias mais ativas) a projeção de crescimento do PIB global é de 4,0%. Para as economias avançadas a projeção de crescimento no ano é de 3,3% e para os países emergentes e em desenvolvimento, excluída a China, a previsão de crescimento é de 3,5%.

Segundo o Banco, a pandemia causou queda na renda per capita em mais de 90% dos países emergentes e deslocou milhões de pessoas de volta a pobreza. É esperado um recuo de 10 anos nos ganhos que tiveram na renda per capita para um quarto dos países emergentes. Já no cenário de aumento de novos casos de contaminação a projeção de crescimento é de 1,6% para a economia global.

O central é que mesmo com a contaminação controlada é improvável que a economia global consiga retomar o estado anterior a pandemia. Ela deixará fortes cicatrizes na produtividade, em especial nos efeitos de acumulação de capital físico e humano.

 

2. Desdobramentos da batalha Geopolítica: EUA e China

No fim de 2020, a China e a União Europeia firmaram acordo bilateral de investimentos (Acordo Abrangente de Investimento), com o objetivo de dar acesso as empresas de cada região ao mercado da outra. Embora seja “o acordo mais ambicioso que a China já concluiu com um outro país”, nas palavras oficiais da Comissão Europeia, o impacto maior diz respeito a batalha política travada pelos EUA contra a China, para manter o seu domínio global.

Havia grande descontentamento dos EUA em relação a possibilidade de assinatura desse acordo, por minar sua estratégia de construir o isolamento político e econômica da China. A finalização do acordo foi uma derrota ao país norte-americano. Para além da importância econômica da China, a vitória nesse tema, com a bandeira da multipolaridade, garantiu um avanço no seu papel geopolítico.

Vijay Prashad, diretor do Instituto Tricontinental, e o professor e pesquisador John Ross da Universidade Renmin da China, debatem nesse vídeo sobre o papel desse acordo e do acordo comercial asiático, a Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP), que concentra 29% do PIB mundial.

 

3. Fechamento da Ford Company/Brasil
O fechamento das plantas no Brasil da fabricante multinacional Ford Company, foi outro grande acontecimento que ganhou centralidade no debate econômico. As fábricas fechadas se encontram em Camaçari (BA), Taubaté (SP) e Horizonte (CE). A fábrica de São Bernardo já foi fechada no ano de 2019. A empresa irá manter além de sua sede administrativa, o Centro de Desenvolvimento de Produto na Bahia e o Campo de Provas em Tatuí (SP).

O impacto dessa notícia se dá não só pelo caráter simbólico de ser a primeira montadora de carros instalada no país, estando presente desde 1919, mas pelo desdobramento real na economia, dado sua longa cadeia de produção, com ligações diretas e indiretas com muitos outros setores.

Segundo estudo da Cedeplar (UFMG) sobre os impactos dessa ação, mostra que só nesse ano podem ser fechados mais de 52 mil postos de trabalho diretos e indiretos, com impacto no PIB de -0,06% (representando R$ 3,8 bilhões). As Centrais Sindicais se uniram junto aos trabalhadores na busca de ações unitárias em defesa do emprego e denúncia a decisão da empresa.

Muitas outras análises foram e vem sendo feitas sobre as causas e impactos do fechamento das plantas da Ford, tendo entre os principais temas as políticas de austeridade do governo Bolsonaro, que intensifica a crise com mais desemprego e enfraquecimento do consumo local, a desindustrialização estrutural do Brasil, que é reforçado pelas políticas governamentais atuais e as grandes transformações no capitalismo global, com a busca por novas tecnologias e produtos pelas grandes corporações no intuito de retomar o processo de acumulação de capital em crise. Ainda assim, a Anfavea, representante das montadoras no Brasil, prevê crescimento da produção de 25% para esse ano.

São variados temas com muitas propostas, as vezes conflitantes. Mas o certo é que na semana, o papel e importância de se discutir um projeto nacional de desenvolvimento ganhou espaço. Se nos marcos do capitalismo dependente ou nos marcos de um projeto nacional e popular é que reside um debate mais aprofundado.

A dica que fica aqui é da conversa entre os professores André Roncaglia e Paulo Gala sobre a Escada Tecnológica e a saída da Ford do Brasil, uma aula com muitos elementos importantes para se considerar.

 

4. A inflação e o preço dos alimentos

O ano de 2020 fechou com uma inflação de 4,52% medida pelo IPCA/IBGE, o mês de dezembro sozinho teve uma aceleração de 1,35%, a mais intensa desde fevereiro de 2003. O centro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional era de 4,0%, dessa forma o resultado do ano ficou acima da meta, mas ainda dentro da margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima.

Já o INPC/IBGE, que é um índice que capta melhor o peso sobre a renda dos trabalhadores, teve uma alta no mês de dezembro de 1,46%, a maior variação para um mês de dezembro desde 2002, fechando o ano com uma taxa acumulada de 5,45%. O Salário Mínimo é reajustado a partir desse índice, devendo ir para R$ 1.102, invés de R$ 1.100 como previsto pelo governo federal.

Os alimentos tiveram alta no ano de 15,53%, enquanto os não alimentícios variaram 2,60%. Os principais alimentos que tiveram as maiores variações anual foram, o óleo de soja com variação de 104,08%, o feijão em 81,44%, do arroz em 75,36% e da batata-inglesa em 67,33%.

Segundo os dados da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos realizada pelo DIEESE, no ano de 2020 os preços do conjunto de alimentos básicos, necessários para as refeições de uma pessoa adulta (conforme Decreto-lei 399/1938) aumentaram em todas as capitais. As maiores altas foram registradas em Salvador (32,89%) e Aracaju (28,75%). Em Curitiba foi observada a menor elevação (17,76%). E com base na cesta mais cara que, em dezembro, foi a de São Paulo, o DIEESE estima que o salário mínimo necessário deveria ser equivalente a R$ 5.304,90, o que corresponde a 5,08 vezes o mínimo vigente, de R$ 1.045,00.

 

5. Outras notícias econômicas da semana:

– O IBGE apresentou as pesquisas mensais do Comércio, Serviços e Indústria do mês de novembro. O primeiro apresentou estabilidade no mês (-0,1%), o segundo um crescimento de 2,6%, mas negativo no acumulado do ano e a indústria cresceu 1,2%.

– A safra nacional de grãos de 2021 deve atingir mais um recorde com crescimento de 2,5% em relação ao ano anterior, segundo Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) do IBGE.

– As exportações de carne bovina do país alcançaram 2,016 milhões de toneladas em 2020, aumento de 7,5% em relação a 2019, sendo que a China representou 58,6% do volume total.