Observar as marcas que o atravessamento do tempo imprimiu em toda extensão do corpo/É um modo de perceber como tem reagido à todas as investidas que só o cotidiano de um sistema capitalista tem.


Este texto faz parte do Concurso de Ensaios Tricontinental | Nada será como antes. Saiba como participar.


Por Edilson de Jesus Santos

Nesses tempos de isolamento
Perceber o corpo é notar cada marca que ele possui
Isso pode levar a caminhos muito obscuros
Dolorosos e penosos
Mas pode ser o inverso também
Pode perceber a potência de afetar e ser afetado, mesmo que o conatus esteja diminuído

 

Observar as marcas que o atravessamento do tempo imprimiu em toda extensão do corpo
É um modo de perceber como tem reagido à todas as investidas que só o cotidiano de um sistema capitalista tem

 

Isolamento social tem deixado o corpo noutro lugar
Para perceber o outro eu que habita em mim
Tento acessar a esse outro numa autoanálise mas é em vão, esse outro sempre escapa, se refaz para me refazer
E é nele que os desejos e pulsões vivem

 

O que pode o outro corpo no corpo desejante?

 

Pode ter a imensa vontade de transitar e afetar os outros, pode ter vontade de transar quando o outro do outro está longe
Pode se marcar ao escrever ou ler quando esta é a única possibilidade de sentir a vida pulsar
Também pode se tocar e perceber que o outro do outro é importante, mas não o fundamental para sua existência
Pode se desejar sem excluir a possibilidade de que também é desejo do outro do outro
E que seu outro também deseja aquele que te deseja
Pode desejar morte, pode desejar vida
Sem necessariamente realizar o desejo como ele realmente é
A vida pulsa perante a morte e a morte pulsa perante a vida