Os EUA alegaram razões de segurança nacional ao proibirem o uso do aplicativo chinês TikTok em território nacional.

 

São Paulo, 08 de agosto de 2020
Nº 010/20 – semana 1

 

Síntese: Os EUA mantêm a ofensiva no campo tecnológica e econômico contra a China, agora com a proibição do uso do aplicativo chinês TikTok e a pressão nas empresas chinesas nas bolsas de valores estadunidenses. Já a China, na relação financeira com a Rússia, busca sair da zona de controle do dólar; a participação dessa moeda no comércio bilateral caiu para abaixo de 50%. A retomada econômica da União Europeia é expressa no crescimento do comércio varejista nos dois últimos meses, voltando aos níveis recordes pré-pandemia. A dívida externa tem se colocado como um dos principais problemas dos países emergentes, que apresentou um recorde alcançando 230% do PIB no 1° trimestre; Equador e Argentina chegaram a um acordo com seus credores privados, mas ainda tem uma longa caminhada pela frente. No Brasil, a retração da economia no 2° trimestre foi de -11,2%; a previsão do PIB para o ano de 2020 está em -5,77%. Mais de 3,8 milhões de famílias devem retroceder na pirâmide social diante do impacto da crise. O Copom baixou a taxa básica de juros (SELIC) para 2,0%. As exportações brasileiras tiveram uma queda de -2,9% e as importações uma queda de -35%, como reflexo da retração econômica mundial e nacional. A inflação de julho medida pelo IPCA foi de 0,36%, no acumulado do ano está em 2,31%. São 12,8 milhões de pessoas desempregadas no Brasil e mais da metade da população em idade ativa fora da força de trabalho. A produção industrial apresentou um aumento de 8,9% no mês de junho, mas ainda acumula uma queda de -10,9% no ano.

 

INTERNACIONAL

1. A disputa entre EUA e China no campo da tecnologia se intensificou por parte do país americano ao proibir o uso do aplicativo chinês TikTok, alegando razões de segurança nacional. O número de usuários do aplicativo nos EUA chegou a 165 milhões. O uso dessa ferramenta poderá ocorrer caso a Microsoft – que já demonstrou interesse – compre o aplicativo; o governo dos EUA teria uma parcela dessa compra, segundo o próprio presidente Trump. Por trás da briga pelo uso do aplicativo se encontra a batalha pela hegemonia no controle das novas tecnologias.

2. No primeiro trimestre de 2020, pela primeira vez a participação do dólar no comércio entre Rússia e China caiu abaixo de 50%. Em 2015, 90% das transações entre os dois países eram realizadas em dólares. Esse processo de desdolarização pode apontar para a consolidação de uma aliança financeira, antes de comercial ou militar, entre Rússia e China.

3. Na União Europeia, o comércio varejista cresceu 5,2% em junho comparado a maio. No mês de maio comparado a abril o crescimento foi de 20,3%. Com esses resultados o comércio varejista retornou aos níveis recorde de fevereiro de 2020, antes das restrições impostas pela pandemia. Esse movimento deve-se ao afrouxamento das políticas de isolamento por conta da queda das contaminações no período. Já a produção industrial apresentou um crescimento de 0,7% em junho comparado ao mês de maio. Comparando junho de 2020 a junho de 2019, a queda foi de -3,4%.

4. O Equador alcançou acordo com os credores de sua dívida de US$ 17,4 bilhões, empurrando os vencimentos que estavam para 2022 e 2030 para 2030, 2035 e 2040, com uma taxa de juros que cai de 9,2% para 5,3%. O país busca um novo pacote de US$ 2,3 bilhões com o FMI. A Argentina também chegou a um acordo com os credores privados de sua dívida de US$ 65 bilhões, com a proposta de pagar 55 centavos por dólar, um desconto de 45,2%. Agora ela tem pela frente a necessidade de negociar a dívida que possui com o FMI. Estudo do Instituto de Finanças Internacionais mostra que a dívida dos países emergentes subiu para o recorde de 230% do PIB no primeiro trimestre; cerca de US$ 3,7 trilhões com vencimento até o fim de 2020.

 

CRESCIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO

5. A projeção do PIB brasileiro para o ano de 2020 é de -5,66%, segundo o Boletim Focus, do Banco Central, a partir da pesquisa das expectativas do mercado. Há uma semana a projeção era de -5,77%, e há um mês estava em -6,5%. Isso aponta uma diminuição no pessimismo em relação a economia, mas ainda assim em taxas negativas para o ano. O Indicador de Atividade Econômica da FGV aponta uma retração de -11,2% da economia no 2° trimestre em comparação ao 1° trimestre.

6. O BNDES e a Embrapii firmaram um acordo de R$ 20 milhões para apoiar projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, ligados ao combate a Covid-19. A parceria buscava também fortalecer as competências da base industrial brasileira, assim atendendo às necessidades do sistema de saúde do país e o desenvolvimento de tecnologias habilitadoras, como internet das coisas (IoT), sensores, inteligência artificial, novos materiais, entre outras, que auxiliem na retomada da economia

7. Cerca de 3,8 milhões de famílias devem retroceder na pirâmide social e passar para as classes sociais D/E em 2020. Com isso, a participação dessas classes nos domicílios brasileiros chegará a 56%, segundo estimativas da consultoria Tendências a pedido do Valor Econômico. Quem mais vai perder nesse processo é a classe C, que reduzirá em 1,8 milhão de famílias.

 

CRÉDITO, DÍVIDA E JUROS

8. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a taxa Selic de 2,25% para 2,00% ao ano. O relatório aponta que o cenário externo ainda se mostra desafiador para os países emergentes diante da maior retração econômica global causada pela Covid-19. Embora o Brasil apresente certa recuperação, os setores mais atingidos pelo distanciamento social permanecem deprimidos. Com isso, a inflação se mantém abaixo dos níveis que julgam compatíveis para o cumprimento da meta. A expectativa da inflação para 2020 é de 1,6% e de 3,0% para 2021.

9. A dívida brasileira tem apresentado uma tendência de encurtamento de seu prazo de pagamento por conta dos juros de curto prazo estarem próximos de 2% a 3% ao ano, como reflexo da queda da taxa de juros básica que remunera a dívida (SELIC). Já os juros de longo prazo estão em torno de 7% ao ano, o que pode significar pouca confiança no futuro do mercado. Se por um lado o de curto prazo garante ganhos no pagamento de juros menores, alguns economistas apontam para a vulnerabilidade que o Tesouro pode encontrar em qualquer movimentação mais brusca dos mercados, deixando o governo sem muitas condições de cumprir essas obrigações de curto prazo.

 

CONTAS PÚBLICAS

10. A balança comercial brasileira do mês de julho teve um superávit de US$ 8,1 bilhões, recorde para o mês desde o início da série em 1989. As exportações tiveram uma queda em relação a julho do ano passado de -2,9% em valores de dólares, apesar do crescimento do total de embarques em toneladas de 13,4%. Já as importações tiveram uma queda de -35% em relação a julho de 2019, com redução nos preços em -7% e na quantidade de -27,7%. Essa forte queda das importações é o que explica o recorde no superávit da balança comercial. Nos produtos exportados o crescimento de embarques se deu na indústria extrativa (41,2%) e na agropecuária (21,1%).

11. Ainda sobre a balança comercial, a Argentina ultrapassou o Brasil enquanto o principal parceiro da China na América Latina. No entanto, especialistas indicam que isso é uma movimentação conjuntural. O crescimento das exportações da Argentina cresceu 51,7% em julho, em comparação ao mesmo mês do ano passado, enquanto as exportações para o Brasil caíram 48,9% no mesmo período.

 

INFLAÇÃO E CONSUMO DAS FAMÍLIAS

12. O Índice de Preços ao Consumidor – Classe 1 (IPC-C1) no mês de julho, que capta a inflação para famílias de baixa renda, subiu 0,50% e ficou 0,17 ponto percentual (p.p.) acima do mês anterior, quando o índice registrou taxa de 0,33%. Com este resultado, o indicador acumula alta de 1,66% no ano e 3,08% nos últimos 12 meses. Em julho, o IPC-BR variou 0,49%. A taxa do indicador nos últimos 12 meses ficou em 2,40%, nível abaixo do registrado pelo IPC-C1. A tarifa de eletricidade residencial saiu de uma variação negativa de -0,88% para um crescimento de 2,33%, a maior alta no período. O conserto de bicicleta também parte de uma variação de 0,51% para 1,57% em julho.

13. A inflação no mês de julho medida pelo IPCA/IBGE foi de 0,36%, acima da variação do mês de junho de 0,26%. No ano, o índice acumula uma alta de 0,46%; em 12 meses está em 2,31%. O maior impacto veio dos Transportes, com alta de 0,78% por conta da gasolina, que teve uma variação de 3,42%, e na Habitação (0,80%), com alta da energia elétrica em 2,59%. A Alimentação e bebidas ficou estável em 0,01%. Os itens com maiores variações foram a carne (3,68%), leite longa vida (3,79%) e o arroz (2,20%). Os que apresentaram queda foram a batata-inglesa (-24,79%), a cenoura (-20,67%) e o tomate (-16,78%).

 

MERCADO DE TRABALHO E RENDA

14. O Ministério da Economia estima economizar R$ 466,4 milhões em custeio administrativo por conta dos servidores públicos que estão em teletrabalho. Entre as principais reduções dos custeios estão os deslocamentos e viagens e os serviços de energia elétrica e comunicação. A parcela de funcionários públicos em casa é duas vezes maior que dos trabalhadores da iniciativa privada, segundo cálculos do IPEA. Até o final de junho havia 3 milhões de trabalhadores do setor público trabalhando de forma remota.

15. No Brasil, há 12,8 milhões de pessoas desempregadas, com uma taxa de desocupação no trimestre móvel de abril a junho de 13,3%, segundo o IBGE. A população ocupada é de 83,3 milhões de pessoas. A população fora da força de trabalho foi de 77,8 milhões de pessoas, com um crescimento recorde em relação ao período anterior de 15,6%. Pela primeira vez na série histórica a soma da população fora da força de trabalho mais os desempregados (90,6 milhões de pessoas) supera o número de ocupados (83,3 milhões).

 

EMPRESAS (INDÚSTRIA, COMÉRCIO, SERVIÇOS E AGRONEGÓCIO)

16. A produção industrial do mês de junho apresentou um aumento de 8,9% em relação a maio de 2020. O mês de maio já havia apresentado um aumento de 7% comparado a abril (com uma queda de -18,8%), segundo os dados da PIM/IBGE. Em relação ao mês de junho de 2019, a desaceleração foi de -9,0%. No acumulado do ano a queda é de -10,9%. Por Grandes Categorias Econômicas, os Bens de Capital tiveram um crescimento de 13,1% no mês (mas ainda com uma queda no acumulado de -21,2%); e os bens duráveis, com forte impacto da produção de carros, teve um crescimento de 82,2%. No mês passado o crescimento foi de 92,5%. O ano ainda acumula queda de -36,8%.

17. No mês de julho o crescimento da venda de veículos novos foi de 31,4% em relação ao mês anterior, segundo a Fenabrave, totalizando 174.498 novos emplacamentos no mês. Em relação ao mesmo mês do ano de 2019, a queda foi de 28,4%. A estimativa da entidade para o ano é uma queda de 36,4% nas vendas de veículos novos.

 

ESPECIAL COVID-19

18. Até o momento, o governo federal liberou R$ 148,9 bilhões de recursos para o Auxílio Emergencial, totalizando 211,7 milhões de pagamentos e beneficiando 65,8 milhões de pessoas, segundo a Caixa.

19. No monitoramento de gastos da União com o Covid-19, o Tesouro Nacional já gastou R$ 275,1 bilhões (na semana passada foi R$ 286,5 bilhões) de uma previsão de R$ 510,0 bilhões (na semana passada era de R$ 509,6 bilhões). Os maiores valores foram com o Auxílio Emergencial a Pessoas em Situação de Vulnerabilidade (R$ 167,64 bi), Auxílio Financeiro aos Estados, Municípios e DF (R$ 39,94 bi) e Cotas dos Fundos Garantidores de Operações e de Crédito (R$ 20,9 bilhões).